No Dia Internacional em Memória das Vítimas de Acidentes e Doenças Relacionadas ao Trabalho (28/04), a Internacional de Trabalhadores da Construção e da Madeira (ICM) promoveu um ato político-sindical, reunindo cerca de 100 pessoas – presencial e virtualmente – no auditório do Sindicato dos Químicos de São Paulo. A atividade reafirmou o compromisso das organizações sindicais com a luta por ambientes de trabalho dignos, seguros e saudáveis, especialmente diante do avanço de condições de trabalho que adoecem e matam trabalhadores e trabalhadoras em todo o mundo.
O evento contou com a participação de lideranças sindicais de diversos países da América Latina, representantes de entidades governamentais, pesquisadores e técnicos da área de saúde e segurança do trabalho. A ação teve como eixo central a denúncia das condições insalubres nos setores da construção, da madeira, florestal e afins, além do fortalecimento de campanhas e políticas públicas voltadas à proteção da classe trabalhadora.
A programação teve início com a mesa de abertura política, com saudações de dirigentes e representantes das instituições públicas: Ministério do Trabalho e Emprego, Ministério da Saúde, Ministério Público do Trabalho da 2ª Região, Fundação Jorge Duprat e Figueiredo – Saúde e Segurança do Trabalhador (FUNDACENTRO) e Centro de Referência em Saúde do Trabalhador – São Paulo (CEREST – SP). A atividade foi conduzida pelo presidente do Sindicato dos Quimicos do Sindicato dos Químicos de São Paulo, Hélio Rodrigues, também membro titular do Comitê Regional da ICM.
Logo após, Nilton Freitas, Representante Regional da ICM para a América Latina e Caribe, conduziu a Cerimônia das Velas, momento simbólico de memória e homenagem às vítimas de acidentes e doenças ocupacionais.
A atividade foi permeada por reflexões sobre as principais ameaças à saúde dos trabalhadores nos setores representados pela ICM, a saber: a exposição ao benzeno e à sílica, os impactos do estresse térmico e do calor extremo e a importância da prevenção ao assédio e à violência no trabalho.



A pesquisadora Arline Arcuri, discutiu as questões relacionadas à exposição ocupacional ao benzeno. O benzeno é uma substância química cancerígena, presente em diversos ambientes industriais (refinarias, petroquímicas, siderúrgicas, postos de combustíveis, tintas, detergentes etc.). É altamente volátil, inflamável e explosivo, e seus vapores se acumulam em áreas baixas, ampliando os riscos de exposição. As principais vias de contaminação são a respiração, o contato com a pele e a ingestão. O benzeno afeta a medula óssea e o sangue, podendo causar leucemias, alterações imunológicas, neuropsicológicas, reprodutivas e vários tipos de câncer. Não existe nível seguro de exposição ao benzeno, afirmou a pesquisadora, que alerta que o atual Valor de Referência Tecnológico (VRT) corre risco de ser substituído por um “limite de exposição ocupacional”, o que representaria grave retrocesso na proteção da saúde do trabalhador.
O estresse térmico e o calor extremo, vivenciado por milhões de trabalhadores no mundo, são resultado das mudanças climáticas, o que agrava as condições de trabalho, especialmente em setores como a construção, agricultura e a indústria pesada. A exposição ao calor extremo provoca exaustão, acidentes, doenças cardiovasculares, disfunção imunológica e perda de produtividade. Estima-se que haverá 250 mil mortes adicionais/ano até 2050, com aumento de 350% em mortes relacionadas ao calor. Carolina Dantas, Secretária Regional de Campanhas, Clima e Florestas (ICM) apresentou a Campanha Internacional “Tá Quente Demais para Trabalhar!”. A campanha defende o direito de parar de trabalhar durante ondas de calor extremo, proteções e compensações adequadas para trabalhadores afetados, a adaptação dos locais de trabalho e negociação de acordos coletivos com limites claros.
Em relação à Norma Regulamentadora 1 (NR-1), Disposições Gerais e Gerenciamento de Riscos Ocupacionais, Remigio Todeschini, Diretor de Conhecimento e Tecnologia da FUNDACENTRO, destacou os aspectos ergonômicos e psicossociais dentro dos Programas de Gerenciamento de Riscos Ocupacionais (GRO) das empresas. A CIPA passa a ser Comissão Interna de Prevenção de Acidentes e de Assédio (CIPA+A), e deve abordar assédio sexual, moral e outras formas de violência. Destacou-se o uso do Guia Lilás (CGU) como ferramenta para prevenção e enfrentamento do assédio.
Ao final do encontro, foram apresentadas publicações para a formação sindical e o embasamento técnico das lutas nos locais de trabalho: “Deter a Poeira Mortal: Combater a Silicose e a Exposição ao Pó da Madeira”; “Mecanismos Internacionais: Saúde e Segurança no Trabalho e Negociação Coletiva”, fruto da parceria entre ICM, DGB-WB, DIEESE e Robinson Leme; e Códigos de Conduta da OIT International Labour Organization sobre SST na construção civil e no setor florestal.
A ICM e suas organizações afiliadas reafirmam que nenhuma morte no trabalho é aceitável. É urgente e necessário transformar a realidade de milhares de trabalhadoras e trabalhadores que diariamente enfrentam riscos graves à sua saúde por conta da negligência de empregadores e da ausência de políticas públicas eficazes.
Esta luta não é apenas pela memória das vítimas, mas também pela construção de um futuro com trabalho digno, respeito à vida e justiça social.
Reprodução: ICM
Fotos: Divulgação/ICM