Filme vencedor do Prêmio FNA 2018 aproxima telespectadores da realidade das ocupações

Os desafios enfrentados pelos refugiados que vivem no Brasil, sua imersão em grupos que reivindicam direito à moradia na cidade de São Paulo, e os motivos que levam essas pessoas a tornarem as ocupações irregulares seus lares foram fonte de inspiração para a criação do longa-metragem “Era o Hotel Cambridge”, vencedor do Prêmio FNA 2018. A narrativa aborda o dia-a-dia dos brasileiros e estrangeiros que residem nos 15 andares do antigo hotel de luxo Cambridge, na capital paulista. Traz os dilemas pessoais e a luta do grupo para manter-se no prédio mediante pressão do poder público pela desocupação.

O filme apresenta uma linha tênue entre ficção e realidade, e aproxima os telespectadores da vida de quem transforma uma ocupação em lar e da realidade de quem tenta se encaixar em uma sociedade diferente da que vive. Construído lado a lado com os grupos de movimentos sociais, como Grupo de Refugiados e Imigrantes Sem Tetos (GRIST) e o Movimento Sem Teto do Centro (MSTC), o longa desmarginaliza quem vive em uma ocupação e que luta por um direito básico, que é o acesso à moradia.

Para a diretora e roteirista do filme, Eliane Caffe (foto), um dos fatores que torna o longa-metragem especial é o fato de ter sido pensando coletivamente, tornando o set de filmagem um espaço de intervenção interdisciplinar. “O filme nunca esteve pronto. Evoluiu até o último dia de edição do som. E não teria terminado não fosse perceber que não teria fim se continuássemos a seguir com os personagens”, ressalta.

A convivência diária dentro de uma ocupação foi um aprendizado tão grande que modificou a vida dos integrantes da equipe. Alguns, inclusive, tornaram-se militantes do movimento por acesso à moradia. Eliane acredita que, além das temáticas sociais urgentes, o próprio ato de fazer um filme pode ser transformador a partir da mobilização das demandas da equipe de arte e dos personagens reais. “Os movimentos organizados de ocupação são a melhor forma de resistir e tornar as contradições sociais mais visíveis”, pontua a diretora. O trabalho também aproximou estudantes de arquitetura e urbanismo do tema, já que 21 alunos da Escola da Cidade visitaram o set de filmagem durante as gravações.

Apontada por críticos como algo sem comparação com o que já foi produzido pelo cinema brasileiro, a obra participou de mais de dez festivais no país e o no exterior. Entre os prêmios recebidos estão o melhor filme – voto popular na 40ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo em 2016, e a menção especial do júri internacional do 15° Festival de Filme e Fórum dos Direitos Humanos (FIFDH) em Genebra, na Suíça.

Confira o trailer oficial do filme: https://www.youtube.com/watch?v=a5EQUG-RMI8

Foto: Paulo Cezar

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