EAD: ferramenta de inclusão ou exclusão?

A ação do Ensino a Distância (EAD) como agente de inclusão e, ao mesmo tempo, de exclusão social preocupa as entidades de Arquitetura e Urbanismo. Em tempos de pandemia, quando a ferramenta é a única alternativa para garantir o avanço do semestre, o que se vê são os alunos mais carentes alijados do processo educativo. Na live “EAD na Arquitetura: problemas ou soluções em tempos de pandemia”, realizada no Youtube da FNA na noite desta segunda-feira (18/5), o presidente do Sindicato dos Arquitetos no Estado do RS (Saergs), Evandro Medeiros, lembrou que, apesar de muito se dizer que o EAD facilita acesso dos estudantes ao ensino superior porque barateia as mensalidades, não é a modalidade do ensino que define inclusão. “Não existe uma política educacional no Ministério da Educação”, frisou o arquiteto e urbanista, ainda provocando os mais de 100 espectadores a refletirem se o acesso ao ensino, mesmo que presencial, é inclusivo. “No momento que a gente tem 2% da população chegando nas universidades, que inclusão é essa?”.

O graduando e diretor de Ensino, Pesquisa e Extensão da Federação Nacional de Estudantes de Arquitetura e Urbanismo do Brasil (FeNEA), Daniel Leão, voltou à fala de Medeiros e questionou: “Não existe uma política educacional ou a política é justamente precarizar e causar uma derrocada geral principalmente da educação pública?”, refletiu. Leão lembrou que, em muitos casos, as universidades são os meios de acesso não só às aulas presenciais, mas aos livros, computadores e à alimentação. Durante sua manifestação, o estudante falou sobre a consulta pública realizada pela FeNEA logo após a implementação das aulas EAD devido à pandemia, no início de março, para entender a visão dos estudantes com a modalidade. A pesquisa, que ouviu 4,5 mil estudantes em dois dias, constatou que a transição emergencial não foi capaz de atender às demandas das rotinas de estudos dos alunos. “Essa modalidade de ensino exclui diversos alunos com perfis diferentes, como indígenas, quilombolas e ribeirinhos e deixa de lado os estudantes que têm deficiências, sejam elas visuais, auditivas ou cognitivas”, enfatizou.

Apesar de manifestarem-se contrários ao sistema EAD, os arquitetos e urbanistas reconhecem a relevância e o avanço da ferramenta. Segundo o mediador do debate e diretor da FNA, Danilo Matoso, as questões que envolvem o ensino da Arquitetura e Urbanismo transcendem questões técnicas. “Vamos para a faculdade para aprendermos a nos comportar como arquitetos”, afirma. Porém, conforme destacou Matoso, o EAD é algo que vem se impondo nos cursos mesmo com a resistência das entidades e, consequentemente, será uma realidade a se conviver. “Se por um lado, poucos têm acesso aos recursos digitais do Ensino a Distância, por outro, o EAD é bem mais barato e ocorre em horários que quem trabalha o dia inteiro consegue conciliar com mais facilidade”, tensionou.
A Associação Brasileira de Ensino de Arquitetura e Urbanismo (Abea) é contra o EAD, mas pontua a possibilidade de um sistema híbrido. Traçando um paralelo com o curso de Medicina, o subsecretário da Abea, Gogliardo Maragno, afirmou que a Arquitetura e Urbanismo tem especificidades que exigem aulas presenciais, como laboratórios e visitas às obras. Questões que, segundo ele, também devem exigir preocupação da sociedade. “Acredito que a incorporação das tecnologias trazidas pelo EAD no ensino presencial é justamente essa modalidade híbrida. Você pode e deve trazer toda a tecnologia para o ensino, mas isso é na situação de normalidade”, disse, destacando a época atípica que a Covid-19 impõe à sociedade. “A perda é inevitável. O que não podemos permitir é que, no futuro, haja uma lacuna na formação dos estudantes que estão desenvolvendo seu curso justamente nesse momento”, destacou.

A live contou com a participação empolgada sobre o tema no chat, onde profissionais alertaram que a precarização do ensino não está apenas no EAD. Os profissionais acreditam na importância de debater também os conteúdos curriculares na escola tradicional. O presidente do Saergs citou casos concretos de docentes arquitetos que vêm enfrentando árduas jornadas para adaptar-se ao EAD em tempos de pandemia, como professores que atendem alunos de madrugada ou em manhãs de domingo. “É importante que eles lembrem que têm um horário a cumprir, e se eles atendem alunos fora desse horário, ou se prestam um determinado trabalho, eles têm que, no mínimo, discutir essas questões com o empregador”, afirmou, destacando o papel dos professores: “não é apenas um empregado. É um arquiteto formador de outros arquitetos”, salientou.

Confira a live completa clicando aqui.

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