Mesmo que as mulheres sejam a maioria quando o assunto é arquitetura e urbanismo, o mercado arquitetônico ainda é desigual, o que resulta em uma desvalorização das profissionais. Enquanto as obras de arquitetos como Oscar Niemayer são lembradas até hoje, mulheres que fizeram história na arquitetura brasileira, como Lina Bo Bardi, responsável pela construção do Museu de Arte de São Paulo, Sesc Pompéia (São Paulo) e Recuperação do Centro Histórico de Salvador, são pouco mencionadas.
Mudar essa realidade e tornar pública a obra de arquitetas é um dos objetivos do Coletivo Arquitetas Invisíveis, criadores do site e da revista que leva o mesmo nome do projeto. Ambas as iniciativas são uma forma de contribuir para o avanço das discussões de gênero no mercado arquitetônico. A ideia também é oportunizar a divulgação de trabalhos que apresentam recorte de gênero no campo da arquitetura e áreas semelhantes, possibilitando um intercâmbio entre pesquisadores do Brasil e do exterior. Em função disso, até a revista tem tradução em inglês.
A primeira edição da revista, lançada em 2016, foi elaborada com base na temática “Pioneiras”, e resgatou a história de grandes arquitetas e profissionais de áreas semelhantes. No dia 08 de março, em homenagem ao Dia Internacional da Mulher, o projeto lançou a segunda edição com o tema “Nas sombras”. Mas afinal, o que significa a temática? A edição se baseia em histórias de mulheres que foram invisibilizadas como profissionais por atuarem em parceria com homens e, também, protagoniza projetos de profissionais da arquitetura e de áreas semelhantes. “A falta de reconhecimento é resultado de uma sociedade patriarcal, a mulher tem sempre que provar que é capaz ”, pondera a arquiteta e uma das integrantes do Coletivo, Luiza Dias.
Entre os 27 trabalhos inclusos na revista, Luiza destaca a pesquisa “Invisibilidade feminina na história e na cidade: os monumentos públicos falam sobre quem?”, da arquiteta Isabela Rapizo Peccni. A profissional faz um mapeamento dos monumentos públicos do Rio de Janeiro (RJ) que constatou a disparidade entre representações masculinas e femininas. As arquitetas e ativistas Andréia Moassab e Joice Berth também estão na obra, com o trabalho “Arquitetas Negras: Apagamento e Invisibilidade” , que aponta a inexistência do recorte racial no mercado de trabalho arquitetônico. Para não delimitar o número máximo de trabalhos selecionados e expandir o público leitor, o grupo optou por elaborar a revista digitalmente , permitindo acesso às edições pelo site www.arquitetasinvisiveis.com
Luiza se formou em 2017 e, em menos de um ano, constatou os diversos problemas enfrentados pelas mulheres. “Além da questão de gênero, existe a desvalorização da profissão como um todo”, aponta. A arquiteta acredita que para modificar a realidade atual é necessário um movimento de todas as áreas que compõem o mercado de arquitetura.
Próxima edição da revista já tem tema definido
Logo após o lançamento da segunda edição da revista, o Coletivo mostrou que ainda há muito trabalho pela frente. Recentemente, foi lançada a chamada de trabalhos para a próxima edição da publicação. Inicialmente, a terceira edição seria sobre “trabalho social” , mas a temática foi alterada para “trabalhos feministas.” Trabalhos pensados para mulheres, são trabalhos para todos”, defende Luiza. O edital completo para a terceira edição está disponível para consulta no site do Coletivo.
Sobre as Arquitetas Invisíveis
Composto por seis mulheres, o projeto nasceu na Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de Brasília, em 2013. “Nos demos conta de que não conseguíamos citar mais do que dois nomes de arquitetas, enquanto homens citamos vários”, relembra Luiza. Essa inquietação se transformou em um movimento de ampliação do conhecimento dos estudantes e profissionais da área sobre a história das mulheres arquitetas e em discussões sobre gênero na Universidade. Após levantar dados históricos, principalmente em pesquisas realizadas no exterior, o Coletivo foi oficialmente inaugurado no dia 8 de março de 2014 e,por meio do Facebook, iniciou seu alcance a estudantes e profissionais da arquitetura do Brasil. O Coletivo ultrapassou as barreiras do mundo virtual e realizou uma exposição física com o material coletado. Paralelo a isso, elaborou palestras e seminários evidenciando a importância da mulher arquiteta. Atualmente, o projeto é referencia no que refere equidade de gênero no mercado arquitetônico.