Ciclo de palestras aborda a Revolução Russa

No ano em que a Revolução Russa completa o seu centenário, universidades e entidades sindicais iniciam um ciclo de palestras para debater o tema. O primeiro evento deste ciclo, denominado “1917-2017: O ano que abalou a história – A Revolução Russa e a América Latina”, será promovido de 20 a 22 de junho, no Rio de Janeiro (RJ). A atividade tem apoio da Federação Nacional dos Arquitetos e Urbanistas (FNA). As inscrições podem ser feitas aqui.

De acordo com o professor Carlos Vainer, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), no meio da carnificina deflagrada pela 1ª Guerra Mundial, resultado de embates entre impérios, potências emergentes e poderosos interesses econômicos nacionais e internacionais, a Revolução Russa anunciou a possibilidade de uma nova era: de paz, de solidariedade entre os povos, mas também de fim de toda a exploração, discriminação, opressão – de classe, de raça, colonial, de gênero.

“Embora estes objetivos não tenham sido alcançados, a repercussão da Revolução Russa foi universal. Entre as classes populares, nos sindicatos e partidos políticos, na juventude, em todos os continentes, em todos os países, na América Latina e no Brasil, ecoavam as mudanças radicais preconizadas pelos revolucionários russos: todo o poder aos sovietes, terra aos camponeses, fim imediato da guerra, controle operário, liberdade para as nações autodeterminarem seus destinos. Sob o lema: “Pão, Paz e Terra”, inaugurava-se um processo que iria abalar a História”, explica.

Segundo ele, na luta contra o nazismo na Segunda Guerra Mundial, nas lutas anti-coloniais, nas conquistas educacionais e culturais e nos avanços em termos de direitos igualitários a condições de vida nos países do chamado “socialismo real”, nos direitos trabalhistas e sociais conquistados nas sociedades capitalistas, o pensamento e a ação dos socialistas foram, sempre, fator decisivo. Mas, como se sabe, de outro lado, a história dos países do chamado “socialismo real” foi também uma história de autoritarismo, burocratização e culto à personalidade, de graves atentados à liberdade de organização e expressão, de perseguições e assassinatos de dissidentes, de irresponsabilidade ambiental, de apoio a regimes ditatoriais e de subordinação de partidos e movimentos de todo o mundo a interesses geopolíticos e econômicos do estado soviético.

Para ele, o século XX, que começou com uma Grande Guerra e uma revolução, terminou assistindo ao ocaso das sociedades e estados do “socialismo real”, seguido, em quase todos os países que se proclamaram alguma vez “socialistas”, pelo restabelecimento das formas de produção e reprodução do capitalismo. Para aqueles que não abdicaram das lutas pela igualdade e pela liberdade, que ainda acreditam na História como um campo de possibilidades, inclusive de superação da miséria, da exploração, das desigualdades e de todas as formas de opressão e discriminação, os caminhos e descaminhos, encantos e desencantos da primeira experiência de construção do socialismo são ainda hoje objeto de controvérsia e debate.

Neste centenário, conforme o professor, há muito a celebrar. “Grandes feitos e heroicos combates a relembrar, realizações a registrar e resgatar, mas há muito a refletir, a pesquisar, a compreender e a avaliar: dogmas, conceitos, propostas e concepções a rever, e, sobretudo, novos caminhos a inventar para caminhar na direção de uma sociedade livre e igualitária, onde a aventura humana da solidariedade, do buen vivir e da liberdade possam ser uma experiência universal, compartilhada por homens e mulheres de todos os povos”, destaca.

“Frente aos desafios da contemporaneidade, aos que pretendem proclamar o “fim da história” e ignorar os anseios de mudança que não deixam de surgir, professores e pesquisadores de diferentes universidades reúnem-se a movimentos sociais num esforço integrado e cooperativo para celebrar o centenário do Ano que Abalou a História, olhando criticamente para o passado e vislumbrando os sinais e as promessas de futuro que estão presentes em nossa sociedade e em suas lutas.”

Ao final da palestra será concedido certificado de participação.

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