Arquitetura também é uma questão de saúde

A falta de condições básicas de saúde para a população é um dilema que as mulheres brasileiras enfrentam diariamente. A precariedade das redes de saneamento básico, não priorização dos investimentos no Sistema Único de Saúde (SUS) associada à falta ou precário acesso a serviços básicos de saúde pelas crianças, idosos e adultos adoecidos, sobrecarregam o dia a dia daquelas que, muitas vezes, são responsáveis pelos seus cuidados. Afinal, é a mulher que, geralmente, assume o papel de “cuidadora” e é ela que sente na pele o peso das filas, da negligência e do descaso do Estado em ofertar serviços de saúde de qualidade a toda população. Segundo a pernambucana Madalena Margarida da Silva Teixeira, 48 anos, a defesa e fortalecimento do SUS e de suas políticas públicas de saúde, é a chave para avançar na melhoria das condições de vida e de trabalho da população. “Quem mais sofre são as mulheres”, opina sobre a falta de um serviço de qualidade à sociedade.

Exemplo de quem dedicou a vida à luta pela causa feminina, Madalena é, atualmente, secretária de Saúde do Trabalhador na Central Única dos Trabalhadores do Brasil (CUT), com sede em São Paulo (SP). Na entidade, atua na defesa e no fortalecimento do SUS, com outras entidades e movimentos da sociedade civil organizada, cobrando do poder público a elaboração e implementação de ações, programas e políticas públicas de saúde para atender as necessidades da população, bem como a ampliação de recursos para o SUS, valorização do serviço público e dos/as trabalhadores da saúde.

“Além disso, para garantir condições dignas de trabalho e evitar que os/as trabalhadores/as adoeçam, se acidentem e morram, devido às precárias e inseguras condições de trabalho, buscamos contribuir para a elaboração e revisão de Normas Regulamentadoras de segurança e saúde nos locais de trabalho. Para isso, articulamos com bancada dos trabalhadores, e dialogamos do empresariado e do governo”, afirma, citando que busca construir consensos e princípios do tripartismo. “Temos a ideia de ampliar a atuação da secretaria para defender a seguridade social, que é um conceito mais amplo, que abriga moradia, educação, previdência, segurança. A questão da moradia tem tudo a ver com saúde”, afirma.

Desde pequena, Madalena sabe que é necessário lutar para viver e conquistar direitos. Nascida no Agreste de Pernambuco, na cidade de Passira, ela dividiu a infância ao lado de outros 13 irmãos e cresceu trabalhando e participando de pastorais das igrejas que frequentava evangelizado jovem e abordando temas de luta social, como a reforma agrária. Em 1995, reconhecida pela sua atuação junto à comunidade, iniciou sua caminhada no Sindicato dos Trabalhadores Rurais do município. E não parou: hoje, ocupa o cargo de secretária de Saúde do Trabalhador na Central Única dos Trabalhadores do Brasil (CUT).

Sua trajetória até o atual cargo foi marcada de reivindicações pela vida das mulheres. Em 1998, como dirigente do sindicato, criou uma secretaria de organização, formação e direção de mulheres. Mesmo no pequeno município de 29 mil habitantes, conseguiu mobilizar e organizar as mulheres trabalhadoras rurais para participarem da Marcha das Margaridas, que ocorre a cada 4 anos anos com a participação de mulheres de todas regiões do Brasil que saem de suas cidades, estados e regiões para irem a Brasília reivindicar direitos que lhe permitam melhorias das condições de vida e de trabalho. “Para atender as demandas das mulheres passirenses, fomos negociando com o prefeito na época e conseguimos criar uma secretaria de política para mulheres, além de definir um espaço para comercializar produtos artesanais”, lembra.

Em 2007, foi convidada para fazer parte da CUT-PE e articular a formação da Secretaria da Mulher Trabalhadora. “Neste período, criamos o Fórum de Mulheres do Agreste”, conta. Essas conquistas, para ela mostram que a mentalidade e aceitação da população foram sendo moldadas e construídas. “Logo no início da minha militância, percebi que a região do Agreste é muito conservadora. A violência imperava naquela época”, lembra. A realidade, hoje, ainda é desafiadora, mas Madalena acredita que existam canais mais facilitados para mudá-la.

Para tornar cidades mais seguras para mulheres e crianças, Madalena é categórica: “A sociedade anda cada dia mais individualista. Ter espaços coletivos é importante para educar as pessoas”, cita. Praças, creches e locais públicos para a realização de feiras e eventos culturais, para ela, são fundamentais. “Não podemos perder a visão de que a arte tem o poder

O que elas querem das cidades:

– Valorização de locais públicos para lazer e cultura;
– Criação de creches e escolas públicas;
– Instalação de espaços para promoção de feiras de artesanatos e produtos agroecológicos.

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