A criação de uma trajetória única envolve maneiras de inspirar mudança e o desejo de melhorar o mundo. O voluntariado, por meio da arquitetura e urbanismo, trouxe a possibilidade de conexão com as pessoas em que o exercício da profissão projeta e edifica também a solidariedade no próximo.
Adriana Garcia é profissional gaúcha formada pela Unisinos e pós-graduanda em Arquitetura Hospitalar, atuou em projetos da área da saúde nas cidades de Porto Alegre e São Paulo, como a adequação do Hospital Psiquiátrico paulista na pandemia de Covid-19, projetos de Residenciais Geriátricos (ILPI – Instituição de Longa Permanência de Idosos), Instituto de Psiquiatria, Farmácias de Manipulação, Consultório Médico, Odontológicos e de Psicologia, além de colaboração em planejamento urbanístico de condomínios na cidade de Laguna (SC), colaboradora de projetos de flats, edifícios comerciais, residenciais, condomínios habitacionais, entre outros no escritório do Arquiteto Carlos Manuel Brenner Peixoto (in memoriam) durante cinco anos.
Para Adriana, o voluntariado é a expressão máxima de como a profissão por ela exercida pode aprimorar as cidades e a qualidade de vida das pessoas que nelas vivem. Tendo conhecido as mais diversas realidades, a prática concilia a sua paixão com resultados concretos de melhoria cotidiana.
O interesse pelo voluntariado surgiu em um ponto de acolhimento próximo a sua casa. Em meio à enchente de maio que atingiu várias cidades gaúchas, pôde estabelecer conexões que a permitiram ajudar sua comunidade de entorno e além:
“Vi vários caminhões de resgates chegando com pessoas, seus pets e pertences e tentei ajudar nesse ponto, mas eram tantos voluntários que acabei recolhendo o lixo dos canteiros. Lixo esse que era retirado debaixo dos veículos (sacolas, folhas e galhos de árvores). Outro dia, fui acompanhada de uma colega de profissão e amiga – agradeço à arquiteta Manoela Py por isso -, para ajudar no acolhimento de resgatados e se juntaram a nós um grupo de mulheres [unidas conosco até hoje], dando assistência para algumas famílias.”
“Essas pessoas iriam precisar de ajuda por um longo tempo e sabia que a minha vez de ajudar ‘no front’ chegaria na hora certa, porque ninguém consegue ser voluntário sozinho. Precisamos de equipes, as redes necessitam ser formadas para as ações acontecerem e quanto maior a rede, maiores as conquistas e realizações”, acrescenta Adriana.
Atualmente, a arquiteta participa do projeto de voluntariado ReCasa. O grupo é composto de arquitetos, engenheiros, geólogos, geógrafos e vários outros profissionais, providenciando o cadastramento de pessoas que tiveram seus lares afetados. A profissional comenta que, por meio do ReCasa, contatou famílias que moravam em casas de madeira à época pois “a demanda dessas famílias que perderam suas casas e ainda estamos ajudando é enorme, as doações nunca bastam; porque reconstruir um lar minimamente digno, através de doações, exige muita paciência, resiliência, trabalho, tempo e dinheiro e por esse motivo me encontro ativa até o presente momento junto ao grupo que formamos”.
A inspiração para seguir voluntária vem da construção das redes de apoio, todavia, o que a inspira de todo o coração é poder melhorar, mesmo que aos poucos, a situação de necessidade e dificuldade de pessoas que se encontram em extrema pobreza e vulnerabilidade, muitas vezes trabalhadores aposentados ou ainda em atividades, havendo pouca perspectiva e ajuda por parte de autoridades, como ela bem pontua:
“A situação delas é tão grave, o descaso do poder público com essa população é tão gigante, que é impossível conhecer essas pessoas, a história de vidas delas e ficar de braços cruzados.”
Praticar o voluntariado é mergulhar no entendimento da humanidade e do exercício da empatia. É o aprofundamento em diferentes vivências, de forma a mudar o modo de pensar e furar bolhas. Poder conhecer pessoas, melhorar realidades uma a uma, tornam o sofrimento e as necessidades diárias mais amenas, o que é gratificante e valoroso, e claro, especial.
Adriana, que vê na prática uma maneira de dar mais valor à vida e o caminho trilhado até o momento. Ao poder enxergar outras realidades, seguir compartilhando caminhos de auxiliar o próximo enquanto vê a reconstrução das comunidades, o que mais lhe emociona:
“A construção das redes que se formam, várias pessoas legais que conheço todos os dias, a leveza de espírito dessas pessoas que vivem na extrema pobreza, as doações que chegam, ver que essas pessoas não desistem de seguir trabalhando, lutando por uma vida melhor, mesmo com a grandiosidade dos problemas e enfrentamentos que estão passando. É o carinho, a gratidão e a alegria que eles expressam por cada ajuda que entregamos, tudo isso que alimenta minha alma, me faz bem e me emociona de verdade.”
Imagem: FNA