48º ENSA começa com debate sobre revisão da Agenda Urbana em tempos de catástrofes climáticas

Os recentes episódios extremos colocaram em evidência um novo e preocupante aspecto da sociedade brasileira: a Injustiça climática. Episódios como deslizamentos, enchentes e secas vêm ocorrendo exatamente nas mesmas áreas fragilizadas e hoje alvo de injustiça social e racial. O alerta foi feito na noite desta sexta-feira (29/11) durante a mesa de abertura do 48º Encontro Nacional de Sindicatos de Arquitetos e Urbanistas (ENSA), evento virtual que segue até domingo. Promovida pela Federação Nacional dos Arquitetos e Urbanistas (FNA) e pelo Sindarq/MS, a agenda reúne profissionais de diferentes regiões do Brasil em um debate profundo sobre a necessidade urgente de revisar as intervenções nas cidades e a responsabilidade da construção civil na saúde do planeta.

Em uma fala contundente, a arquiteta e urbanista e vereadora do Rio de Janeiro, Tainá de Paula, frisou que é urgente uma revisão na pauta da Agenda Urbana. “A Agenda Urbana foi feita sem considerar os episódios climáticos. Precisamos rever quais áreas se deve ocupar, quais são as prioridades para adaptação em função do clima”, disse convicta de que o Brasil já chegou ao ponto de não retorno da crise climática. “Temos que ser honestos e chegar na COP30 e dizer: não conseguimos dar conta de acabar com as queimadas ou reconstruir as casas destruídas no Sul”, vociferou.

Certo de que o caminho é longo e de muita luta, o arquiteto e urbanista e professor universitário Anderson Kazuo Nakano alertou para as altas taxas de desmatamento, o impacto do agronegócio e dos cultivos em monocultura vêm contribuindo com o aumento da temperatura da superfície global durante a mesa “Política Públicas e o Futuro do Brasil com as mudanças climáticas”. Segundo ele, é preciso entender que o colapso climático está atrelado ao sistema capitalista de alto grau de consumo e que evitá-lo passaria pela adoção de um ecossocialismo e, mesmo assim, seria um grande desafio reduzir o impacto do efeito estufa.

Kazuo argumentou que as populações mais vulneráveis e empobrecidas são exatamente as que estão sendo deixadas para trás à mercê de grandes episódios climáticos. Um exemplo foi visto neste ano no Rio Grande do Sul com as inundações. Os estratos sociais mais atingidos, exemplificou o professor, são áreas de maior concentração de população negra. “As áreas inundadas vêm junto a injustiças sociais e raciais. A Injustiça climática anda ao lado de desigualdades”. Apesar do cenário, o professor acredita na força dos jovens que se dispõem a marcar posição pela vida, pelos direitos sociais e políticos.

A mesa, conduzida pela presidente do Sindarq/MS, Iva Carpes, também contou com a presença da presidente da FNA, Andréa dos Santos, e da ex-presidente Eleonora Mascia. Representando a Fenea, o estudante Arthur Pera integrou a bancada virtual representando os estudantes de Arquitetura e Urbanismo. Andréa dos Santos reforçou a ideia de que a conta da crise climática é paga por uma grande maioria menos favorecida. “O processo capitalista impõe a precarização da vida frente à emergência climática. Essa é uma reflexão que coloca a nossa responsabilidade nesse processo”, salientou, citando a importância de que o poder público e até mesmo o movimento sindical estude o mapa dos atingidos para definir políticas efetivas de ação por igualdade social.

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